ADORAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO: RELEVÂNCIA PARA HOJE


O culto e a adoração a partir do Novo Testamento são totalmente centralizados em Jesus Cristo.A Bíblia declara que Deus, o Criador de tudo, veio a este mundo, pisou neste planeta, andou entre nós, na pessoa maravilhosa de Jesus Cristo (Jo 1.1,14). Em Jesus todo o sistema religioso do Antigo Testamento encontra seu cumprimento definitivo. “Porque o fim da Lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê” (Rm 10.4). Assim como Yahweh libertou Seu povo da escravidão do Egito, Cristo nos libertou da escravidão do pecado (Rm 6.17,18,22) e nos tornou Seu povo, o novo Israel, formado por judeus e gentios indistintamente (Ef 2.11-22; 1Pe 2.9,10). Ele pôs fim aos sacrifícios no templo, pois apresentou-se a Si mesmo como sacrifício perfeito, definitivo, pelos nossos pecados (Ef 5.2; Hb 10.1-18), tornando-se nosso sumo sacerdote e único Mediador entre nós e o Pai (2Tm 2.5,6; Hb 6.13 – 8.13). Não precisamos mais de um local específico de adoração, porque o próprio Cristo é nosso santuário, nosso templo, e Ele mesmo é o cumprimento definitivo de toda a mobília do templo: Ele já cumpriu em nossas vidas o propósito e o significado da arca da aliança, da mesa dos pães e do altar do incenso, do altar dos sacrifícios e do Santo dos Santos (Hb 9.1-28; Ap 21.22). Ele também é o nosso sábado, pois descansamos n’Ele para a nossa salvação (Lc 6.1-11; Hb 4.1-11). É a nossa Páscoa (Jo 1.29; 1Co 5.7).

Em Cristo temos tudo o que precisamos para a viver na graça de Deus, de acordo com a vontade de Deus, pois Ele nos tornou verdadeiramente o povo de Deus (Fp 3.3) e templo do Espírito Santo (1Co 6.19). Nosso culto é o cumprimento de todas as promessas e de toda a redenção esperada pelo povo hebreu no Antigo Testamento. Retornar às antigas práticas ritualísticas judaicas, portanto, seria um verdadeiro insulto a Cristo. O verdadeiro culto a Deus é cristocêntrico: Jesus é o foco, Jesus é o alvo, Jesus é o centro da nossa adoração a Deus.[1] Nunca percamos de vista essa verdade, pois no dia em que nosso culto e adoração se tornarem antropocêntricos (o homem no centro), perderemos tudo (cf. Jr 17.5).
Jesus promete estar presente, de modo especial, em meio ao Seu povo reunido em Seu nome (Mt 18.20). Em qualquer lugar do planeta em que os cristãos se reúnem, em nome de Cristo, Ele está presente com eles, para guiá-los e abençoá-los.

O Novo Testamento, assim como o Antigo, descreve como o adorador cristão deve aproximar-se corretamente  de Deus. A humildade, ou pobreza de espírito, é absolutamente essencial (Mt 5.3). Bem conhecido é o fato de que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (cf. Tg 4.6-10; 1Pe 5.5,6). Aproximar-se do Rei dos Reis com um coração soberbo e arrogante é uma péssima ideia! Na parábola do fariseu e do publicano, Jesus mais uma vez deixou isso bem claro (Lc 18.9-14; veja também Mt 18.1-4, onde Jesus afirma que a humildade é uma condição indispensável para entrar no Reino dos céus). A santidade de vida é outro requisito fundamental para o adorador. Jesus disse: “Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mt 5.8). Deus odeia o pecado. O autor de Hebreus nos lembra de que “sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14), e novamente nos adverte do temor e da reverência que devemos ter em nossos corações diante do Senhor, se quisermos de fato prestar-Lhe um culto aceitável (Hb 12.18-29), “pois o nosso Deus é fogo consumidor” (v. 29).

A oração ensinada por Jesus (Mt 6.9-13) inclui elementos essenciais para a vida do adorador. A expressão “Santificado seja o teu nome” (v. 9) significa que o nome de Deus – tudo o que Ele é e representa – deve ser santificado em nossas vidas, isto é, separado do pecado e do mal. Em outras palavras, devemos viver e nos conduzir no mundo de acordo com o nome que é invocado sobre nossas vidas, o nome de Deus (Ef 5.1-21; Cl 3.1-17). Nosso testemunho de vida deve ser coerente com a fé que professamos (Rm 12.1,2). Por isso a oração prossegue desse modo: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (v. 10). Somos cidadãos do Reino, portanto devemos viver conforme as leis do Reino. Por isso, a vontade de Deus deve ser cumprida cabalmente em nossas vidas, tal como acontece “nos céus”. “Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (v. 12) significa que um coração adorador é um coração perdoador. Se não perdoamos verdadeiramente, não seremos capazes de adorar verdadeiramente. “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” (v. 13a). Mais uma vez, a santificação está em vista. Ser tentado não é pecado. Cair em tentação, sim, é pecado. Em Cristo, temos condições de vencer a tentação (cf. 1Co 10.13). Assim, estaremos livres para louvar: “Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém” (v. 13b).

O Novo Testamento descreve também a adoração comunitária na igreja primitiva, estabelecendo parâmetros para os cristãos de todas as épocas. Paulo diz aos colossenses: “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração” (Cl 3.16). O ensino da Palavra, seja na pregação, em sala de aula ou no cuidado mútuo entre os cristãos, é prioritário na Igreja. O louvor correto brota do conhecimento correto de Deus. “Eu te louvarei de coração sincero quando aprender as tuas justas ordenanças” (Sl 119.7). Cheios da Palavra, poderemos cantar “salmos, hinos e cânticos espirituais”, sabendo que seremos ouvidos, respondendo “com gratidão a Deus” em nossos corações.

A Bíblia se encerra em adoração, já que o livro de Apocalipse é um manual de adoração. Nele, a palavra “adorar” e suas derivadas aparecem nada menos do que 24 vezes (sendo que em todo o restante do Novo Testamento, elas aparecem somente mais 35 vezes). Além disso, outros termos, como “glorificar”, “agradecer”, “louvar”, “honrar”, “servir a Deus”, “clamar a Deus”, bem como muitos hinos e orações, tornam evidente que a intenção de João, ao escrever a “revelação de Jesus Cristo”, era entregar à Igreja um grandioso compêndio de adoração.[2] Se aprendermos a adorar a Deus mesmo em meio à adversidade e à tribulação, seremos capazes de adorá-Lo em quaisquer outras circunstâncias. Alguns dos mais belos cânticos da igreja primitiva são entoados em Apocalipse: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas” (Ap 4.11); “Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos” (Ap 15.3,4); “Aleluia!, pois reina o Senhor, o nosso Deus, o Todo-poderoso. Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se aprontou. Para vestir-se, foi-lhe dado linho fino, brilhante e puro” (Ap 19.6-8). O Apocalipse é um grandioso convite à adoração, diante da sala do trono do Rei dos reis! Ali vemos claramente que aqueles que adoram a Deus são os que se recusam a adorar e louvar a besta, mesmo em face ao martírio. O verdadeiro adorador jamais trocará a glória de Deus pela “glória” dos homens ou dos demônios! Em sua vida, a prioridade é Deus! Por fim, o livro termina com a visão da Nova Jerusalém, afirmando que “o trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão” (Ap 22.3), isto é, servirão, louvarão e adorarão por toda a eternidade. Deus tem uma vida produtiva para seus servos, nos séculos dos séculos do porvir – uma vida abençoada, glorificada, útil, na qual jamais cessarão as manifestações de amor, gratidão e louvor Àquele que comprou para Si “gente de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9).

NOTAS:
[1]. Este parágrafo foi baseado em FRAME, John M. Em Espírito e em Verdade. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, pp. 49-53.
[2]. Cf. POHL, Adolf. Comentário Esperança: Apocalipse de João. Volumes I e II. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001.

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