CONCEITOS BÍBLICOS DE ADORAÇÃO
Certa vez, indagado acerca da adoração, Jesus respondeu que “os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade”, e acrescentou:
“São estes os adoradores que o Pai procura” (Jo 4.23). Jesus deixou claro que
Deus está procurando, continuamente, verdadeiros adoradores. E a característica
dos tais é adorar “em espírito [ou “Espírito”] e em verdade”. Mas o que isso
significa?
Jesus afirma: “Nós adoramos o que conhecemos” (Jo 4.22). Adorar em verdade, portanto, é adorar o Deus
que conhecemos, o Deus vivo e
verdadeiro, em contraste com os inúmeros falsos deuses criados pela imaginação
humana. Adorar em verdade é adorar o Deus que Se revela na Bíblia. Somente por
meio da Bíblia, que é a Palavra de Deus, poderemos verdadeiramente conhecer a
Deus. E o conhecimento de Deus leva, naturalmente, a uma atitude de adoração,
como mostram os versículos abaixo:
“Meus ouvidos
já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram” (Jó 42.5).
“Eu te
louvarei de coração sincero quando aprender as tuas justas ordenanças” (Sl
119.7).
A Palavra de Deus também funciona como um espelho: revela o que
há dentro de nós. “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que
qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb
4.12). A Bíblia nos mostra como realmente somos e, pelo poder do Espírito
Santo, transforma o nosso caráter (2Co 3.18).
Ao adorar em verdade,
isto é, de acordo com a auto-revelação de Deus nas Escrituras, adoraremos
também em espírito. Isso significa
uma adoração verdadeira, genuína, espontânea, que brota do coração humano,
dirigida unicamente a Deus, com alegria, amor, gratidão e deleite.
“A adoração bíblica e espiritual
é o anseio da alma em contemplar a glória e a beleza de Cristo. Quando os
adoradores contemplarem a Cristo, terão a alegria de experimentar a presença
d’Ele. A adoração atinge seu ponto mais pleno e rico quando a nossa alma se
perde na maravilha da glória e da majestade de Deus. Muito do que é aceito como
adoração em nossos dias não produz esta maravilha. Os cultos superficiais e
vazios que caracterizam a presente geração não produzem nem verdadeiros
adoradores, nem grandes santos” [1].
Adorar em espírito é
adorar sem fingimento nem hipocrisia. Quanto mais conhecemos a Deus, mais
prazer sentimos na adoração. Adorar é um ato que glorifica a Deus e satisfaz a
alma humana. Deus nos criou “para o louvor da sua glória” (Ef 1.12,14). A vida
humana só tem sentido quando é vivida em adoração ao Senhor. Aurélio Agostinho
(354-430 d.C.), bispo da cidade de Hipona, no norte da África, declarou em sua
obra Confissões: “Tu nos fizeste para
Ti, Senhor, e nossa alma não encontrará descanso senão em Ti”.
O Dr. Russell Shedd afirma: “Deus é perfeito em santidade (Mt
5.48), Criador e Juiz do universo (Tg 4.12). Devemos-Lhe tudo o que exalta a
Sua dignidade. No céu, onde o pecado não existe e a influência da rebelião do
homem não se aproxima, os seres viventes dão incessante ‘glória, honra e ações
de graças’ (Ap 4.9). Os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante dAquele
que se encontra assentado no trono. Adorarão ao que vive... proclamando: ‘Tu és
digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder...’ (Ap
4.11). Se nossa adoração não incentiva os membros da comunidade cristã a
reconhecerem a dignidade de Deus e do Cordeiro (Ap 5.9,12), ela falha em
princípio. Jesus Cristo é digno de receber ‘o poder, e riqueza, e sabedoria, e
força, e honra, e glória e louvor’ (v. 12)” [2].
Segundo a Bíblia, a verdadeira adoração inclui: rendição
incondicional; serviço a Deus; atitude de reverência a Deus; serviço sacerdotal
[3].
O Novo Testamento utiliza 58 vezes a palavra proskyneo (“adorar”) e suas derivadas.
Este termo significa dobrar os joelhos e prostrar-se, numa atitude de total
submissão. A mesma atitude dos vinte e quatro anciãos diante do trono de Deus
(Ap 4.10). Por isso, a verdadeira adoração envolve a rendição incondicional. Quando adoramos, nos rendemos a Deus,
entregando tudo o que somos e temos em Suas mãos, reconhecendo a soberania
d’Ele sobre nós. O convite de Jesus não mudou com o passar dos séculos: “se
alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e
siga-me” (Lc 9.23). Em resposta a esse chamado, os verdadeiros discípulos farão
o mesmo que Pedro e os demais Apóstolos: “Nós deixamos tudo para seguir-te” (Mc
10.28). O cristão sabe que pertence a Deus, por dois motivos: fomos criados por
Ele, e fomos redimidos – comprados – por Ele.
“Portanto, irmãos, rogo-lhes
pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus; este é o culto racional de vocês” (Rm 12.1).
“Fui crucificado com Cristo.
Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo
no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”
(Gl 2.20).
Outra palavra utilizada para adoração no Novo Testamento é latreia, que significa “serviço”. Deus
não está interessado numa “adoração” que consista meramente em palavras ou
cânticos. A verdadeira adoração inclui todas as esferas da vida: religiosa,
familiar, social, etc. A Bíblia nos chama de servos e servas de Deus (no grego,
utiliza a palavra doulos, que
significa “escravo”).
“Então o Rei
dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam
como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu
tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui
estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram;
estive enfermo, e vocês cuidaram de mim, estive preso, e vocês me visitaram’”
(Mt 25.34-36).
Nos versículos acima Jesus identifica-se com os desvalidos, e
indica que tipo de serviço Ele espera de nós em meio à sociedade. O apóstolo
Paulo nos lembra que “enquanto temos
oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gl
6.10), e que “se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua
própria família, negou a fé e é pior que um descrente” (1Tm 5.8). O serviço a
Deus inclui, necessariamente, o serviço aos nossos semelhantes: “Ele se
entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo
um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras” (Tt 2.14). Uma
vida de adoração leva a uma vida de serviço,
e conduz outras pessoas a glorificarem e adorarem a Deus, por nosso intermédio.
Jesus afirma:
“Vocês são a
luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E,
também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao
contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão
na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas
boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.14-16).
A atitude de reverência
diante do Rei dos Reis, se refere a palavra eusebeia, que no Novo Testamento denota a vida piedosa. É ter o
temor de Deus como princípio da sabedoria (Sl 111.10). A tomada de consciência
da santidade, majestade e glória divina, sentimento profundo e perturbador que
Isaías experimentou ao contemplar o Senhor em seu trono, sendo adorado pelos
serafins, e que o levou a exclamar: “Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um
homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus
olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is 6.1-5). É a mesma reação de João,
ao deparar-se com o Cristo ressurreto e glorificado, na remota ilha de Patmos:
“Quando o vi, caí aos seus pés como morto” (Ap 1.17). É a mesma atitude de
Ezequiel ao contemplar a visão assombrosa da glória de Deus: “Quando a vi,
prostrei-me, rosto em terra” (Ez 1.28). O verdadeiro adorador preocupa-se com o
que agrada a Deus, e procura, com todas as suas forças, viver uma vida que
glorifique e alegre ao Senhor.
A palavra de Deus ensina que todo cristão é um sacerdote (1Pe
2.9). O Novo Testamento utiliza a palavra leitourgeo
para indicar o serviço sacerdotal prestado aos nossos semelhantes. Não existe
mais, em nossos dias, a classe dos “levitas”, como havia nos tempos do Antigo
Testamento. Os levitas eram um dos clãs, ou “tribos”, dos hebreus, descendentes
de Levi, e tinham diversas funções além de tocar e cantar: eles cuidavam dos
sacrifícios no Templo, matando e esfolando os animais, limpando o sangue, a
gordura e os excrementos, cuidavam da limpeza do Templo, bem como do
mobiliário, dos utensílios e ferramentas, etc. Evidentemente é um erro chamar
os atuais músicos e cantores de “levitas”. Podemos algumas vezes exercer um
serviço sacerdotal no sentido de promover
a aproximação entre Deus e os homens, por meio do louvor e da adoração. O
verdadeiro adorador levará outras pessoas à adoração e ao louvor ao Deus vivo,
por meio de suas palavras, atitudes e ministério.
NOTAS:
1. DICKIE, Robert L. O que a Bíblia ensina sobre Adoração.
São José dos Campos: Fiel, 2007, p. 12.
2. SHEDD, Russell. Adoração
Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1987, p. 9.
3. Os quatro parágrafos a seguir foram baseados e adaptados de SHEDD,
Russell. Adoração Bíblica. São
Paulo: Vida Nova, 1987, pp. 16-21.
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